quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


E eis que nos encontramos agora Graças a Deus a família toda no velho mundo.... Bem, reza a história que uma mulher, um homem e um menino tudo podem, então lá vamos nós..

Aos poucos vamos nos adaptando... Há estranhamento no início.. Tudo é mais frio, mais silencioso, mas ao mesmo tempo, tudo é mais gentil, é mais lento, e não há cobranças...

O apartamento em que moramos é antigo, com pé direito alto e vista incrível para as montanhas, que não canso de admirar.... Não há quase nada dentro dele, somente o básico necessário para viver, nem um copo, nenhuma xícara a mais, cada um só tem uma prateleira de armário com as roupas básicas, e nada mais

Escrevo esse post em meio a três artigos nos quais estou trabalhando... Mas ao mesmo tempo em que há trabalho, muita informação chegando e sendo processada, sinto como se passasse por um detox total na alma..

Não sei se é a plenitude de ter minha família comigo, de poder passar mais tempo com quem eu tanto amo, não sei se é o inverno, ou a distância da rotina que deixamos pra trás, mas dia a dia é como se a minha alma processasse lotes e lotes atrasados de pensamentos...

De reflexões sobre coisas que fiz, de como eu agi com algumas pessoas... Eu acho tantas coisas feitas, algumas das quais me orgulho, e outras que quero mudar tanto... Quero muito mesmo...

Quero um downgrade total em tudo, não quero achar que posso isso ou aquilo, não quero mais cobrar tanto nem de mim e nem dos outros, quero paz de espírito, quero mandar a arrogância embora de vez, sem ticket de volta, será que eu consigo? Talvez só de pensar isso já seja arrogância mas tudo bem, eu vou continuar tentando.

O fato é que não tenho mais tempo a perder com coisas que não são importantes.

O dente do meu filho está frouxo, ele tem 5 maravilhosos anos e muitos outros pela frente... A inocência dele me comove por inteiro e eu não quero perder nada de cada segundo que eu possa ser testemunha dela...

Eu quero voltar para casa e poder passar mais tempo com meus pais, cada vez mais percebo que tudo que de fato tem valor eles já tinham me ensinado, o resto todo foi só perfumaria....

Eu amo o meu marido, a cada dia mais e mais, ficar mais tempo com ele é maravilhoso...

Arrumada a casa, quero outros projetos no futuro, coisas que façam a diferença para alguém que eu ainda não conheço. A vida já me deu tudo, muito mais do que eu pedi, agora eu quero mais é ficar à disposição dos outros.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Coisas curiosas do velho mundo...

Coisas que me chamaram a atenção aqui em Grenoble, gosto desses pedaços soltos, da bricolagem do dia a dia...

*  Nos endereços, não há um número de apartamento. Mesmo em um grande prédio, não se indica o número do apartamento em específico, pois não são identificados por um número e sim pelo sobrenome da família - e todos se acham.  Faz valer a máxima "aqui você não é mais um número"

* Aqui as pessoas dão dois beijinhos, mas os beijos começam pela esquerda, e não pela direita (como no Brasil)

* Os franceses tem "o jeitinho brasileiro", eles não são inflexíveis como os ingleses, por exemplo. E eles são "easy going" (ao menos o pessoal daqui) "cet n´est pas grave", é uma frase ouvida com muita frequência.

* Eles não falam de forma objetiva. Eles são prolixos, eles explicam muito a sua opinião, eles não tem pressa alguma de ir ao ponto, parece que eles aproveitam muito a viagem (o discurso em si).

* As francesas são muito arrumadas, muito bonitas, muito charmosas. São extremamente sexy, elas exalam sensualidade, mas não de forma explícita como as brasileiras. E adoram lingerie, salões de beleza, maquiagem. Nenhuma indústria ou produto nasce no vácuo, certo?

* Bom, já que falei das francesas... Os franceses são lindos. Eles tem uma beleza semelhante à dos italianos (pode ser coisa da região daqui de Grenoble, que é próxima da Itália), só que a beleza é mais refinada. Magros, os mais jovens são altos, narizes finos, traços masculinos, mas ao mesmo tempo delicados...

* Os doces são DI-VI-NOS, são surreais, derretem na boca, cada mordida é aquela viagem gastronômica, a gente se sente como aquele ratinho do filme "ratatouille".

* As frutas aqui vem de outros lugares, da África especialmente. Mas descobri um tipo de maça local chamado "golden" (dourada) ela é dourada mesmo, e é uma coisa espetacular, parece que a gente está comendo um doce, não parece com nenhuma outra maçã que comi

* Nos restaurantes, servem-se pratos (não há buffets), e seja qual for o prato, à mesa eles sempre servem água (verre d´eau) e baguete, em grande quantidade, e não é cobrado.

* Bem, nem precisa falar que os queijos, vinhos e pães são excelentes, e incrivelmente o baguete agora vem muito na versão integral.

* E o tempo.. O tempo aqui não é o mesmo tempo do Brasil. Ele passa mais devagar, as horas duram mais. Não há tanta ansiedade. Há uma certeza de que as coisas vão funcionar. Simples assim...




Quando a gente acorda no Brasil, o que passa na TV? Hoje, acordei e aqui na França estava passando um programa chamado algo como "Política na manhã"... Aí, os debatedores estavam em uma discussão política fervorosa, porém, nada sisuda (como são os programas políticos no Brasil), eles estavam rindo, trolando um ao outro, numa empolgação que só se assemelha aos programas de futebol aí do Brasil... 
Pelo que já percebi, política aqui na França não é algo à parte, ou assunto especialmente sério, eles respiram isso, é o dia a dia deles, faz parte do cotidiano... Outro dia, vi um grupo anti casamento gay. Sim, ANTI. Mesmo não concordando com eles, achei interessante que puderam fazer seu protesto tranquilamente. E, o que mais me chamou a atenção, eu vi imagens do presidente francês passeando em um bairro pobre, e uma moça (muçulmana), começou a gritar um monte de coisas com ele do alto da sacada da casa dela, pedindo melhorias para a comunidade, etc. O presidente parou, ficou ouvindo, todo mundo ficou filmando ele e a moça, todo mundo quieto (silêncio de cortar com faca), escutando, o presidente com uma cara preocupada com o que ouvia e dizendo que ia considerar com toda a atenção o que ela estava dizendo...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Dia 16 de novembro de 2012

Primeiro dia em Grenoble...(*)

Acordo com o fuso e o corpo errado... A soma dos meus 40 anos com as 30 horas de viagens dão um resultado catastrófico, eu nem sei que remédio tomar primeiro, se para dor de cabeça, coluna, alergia, etc...

Bem, saindo à luz do dia encontro uma das maravilhas inventadas pela humanidade chamada TRAM. Trem que anda sobre a rua (famoso "bondinho", porém com cara de século XXI) cobre boa parte da cidade, anda devagar, não há dificuldade em compreender como funciona, isso sim é coisa de 1o. mundo...

Então, não há dor que não consiga ser curada com um bom café com leite e um croissant de chocolate perfeito, como aqueles que só existem mesmo na França. Imediatamente me sinto renovada e saio à cata de um lugar para morar..

Andando pelas ruas, eis que surgem diante de mim as montanhas.. Eu sabia que elas estavam ali, mas a neblina da manhã não as deixavam ver, mas o sol chega e elas aparecem de forma gloriosa e surreal ... Essa visão será inesquecível, com toda certeza...

As pessoas da cidade são gentis e descubro que misturando o inglês com o francês eu consigo me comunicar graças à paciência delas...

A imobiliária em que eu vou fica em um prédio que pertenceu ao pai de Stendhal. Prédio do século XXVIII,  reza a história que o pai dele investiu todo o dinheiro nesse prédio, acabando com as chances de Stendhal ter uma herança... Pode ser que ali nasceu o escritor, afinal, escritor que é bom mesmo é escritor pobre. Ou já viu algum  milionário escrevendo alguma coisa que prestasse?

O chão da escadaria é de tijolos (provavelmente não há como alterar a estrutura básica por conta de patrimônio)... Interessante...

O dia termina com boas impressões da cidade, usando a gíria portuguesa que aprendi no avião, Grenoble é "fixe"....

(*) Dia especial, de aniversário de Henrique Freitas, o grande responsável por eu estar aqui, e que adora muito esta cidade.





Eu sempre quis viver no velho mundo

Embarque dia 14 de novembro de 2012

A viagem começou com muita atrapalhação... Perdi um travel card dentro de casa e isso me levou a um atraso considerável, chegando no aeroporto, dei uma nota correndo para o taxista e o dinheiro se rasgou... terror total já que sou muito supersticiosa e também pão dura, portanto não tem sinal de azar pior do que rasgar dinheiro!

Chegando ao balcão da companhia, uma gerente avisa que Portugal e Espanha estão em greve geral, não é possível embarcar para Lisboa... Veja com TAP.. escritório da TAP fechado, ligo para a TAP, ela manda embarcar, enfim, depois de muita confusão literalmente me despacham para São Paulo...

Em São Paulo aquela fauna de Guarulhos, é como se fosse uma estacão interestelar, é como se fosse aquele filme MIB, muitos tipos diferentes de ETs... Uma excursão de fiéis rumo a Israel “A senhora vai subir o monte Sinai?”..  Ingleses, alemães, africanos, chineses, sertanejos...

Em um momento perua consigo até fazer as unhas.. descendo ao subsolo de Guarulhos vejo um pouco da vida das pessoas que “habitam” o aeroporto, interessante...No salão de beleza, várias aeromoças fazem as unhas, elas até pareceram mais humanas quando ali... Elas até ficam em dúvida como qualquer mortal na hora de escolher a cor...

Depois de muito correr atrás de um sinal de rede sem fio, consigo uma conexão e já não me sinto tão sozinha... Quando será que as pessoas vão entender que conexão com Internet é tão essencial quanto a luz elétrica?  Ninguém espera chegar em um aeroporto e ter que se preocupar em acender a luz...

 Inicio este blog lembrando de uma velha música dos Engenheiros do Havaí...

Acho difícil que alguém leia esse blog, mas escrevo mais para mim mesma, é uma forma de terapia, e para o Chris.. Talvez um dia ele dê boas risadas desse blog que um dia deverá cheirar a naftalina..

Chamando para o vôo, aí vou eu.. Portugal em greve, Espanha em greve, seja o que Deus quiser na chegada, o velho mundo já não é mais o mesmo...